sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Oxímoro


"Indodana" - University of Pretoria Camerata

Deixei-te para o fim, porque as palavras me ficam mais pesadas quando penso em ti.

Há qualquer coisa que me emperra os dedos e me tolda o discernimento quando procuro, no teclado, as coisas que gostava de te dizer.

Posso lembrar-me das vezes que me levaste às lágrimas… com as histórias do Vasco da Gama, do pirete, do sr.ª Dona Caga, e das muitas outras narrativas mais ou menos banais que ias recolhendo no 1º ciclo e que nos trazias com a discreta inteligência de quem sabe ter um humor particularmente refinado e discretamente afiado.

Posso recordar-me da tua cara receosa de teres violado os diretos humanos só porque puseste fita cola na boca da Manel...



Vi, num documentário, que a Elizabeth – The Second! – não dava entrevistas. Mas eu tive o privilégio único de poder entrevistar a Isabel – The First!

Ninguém sabe disso porque usámos o teu nome artístico: Dr.ª Vaiá. Lembras-te? Nunca foste… Mas mandámos muitos!

Mas o que me fica de ti é ainda outra coisa...



Posso evocar a gentileza e elegância das tuas mensagens de Feliz Natal e da tua voz meiga a perguntar-me, genuinamente interessada, pela “Céuzinha”.

Só tu tratas a minha mulher por “Céuzinha”. E o mais bonito é que o diminutivo não é por paternalismo ou por sobranceria. É mesmo por carinho, por ternura, por gentileza.

Ao longo destes anos, encontrei sempre em ti um travo a exclusividade.

Rainbow Flowers - Peakpx
 
Sabes, Isabel, encontro em ti a gentileza de uma senhora; sinto em ti a atenção de uma amiga incondicional e entrevejo em ti o cuidado eterno de uma mãe. E isso já é tão raro nos dias apressados em que nos gastamos!

Habituei-me a encontrar nas tuas palavras, a delicadeza de uma grande senhora; a descobrir no teu sorriso, o refinamento de uma dama; e de vislumbrar, nos teus olhos, a elegância de uma rainha. De uma rainha a sério… Daquelas que dão entrevistas.



Noutro dia, numa aula de 12º ano, estava a tentar explicar a diferença entre antítese e oxímoro (paradoxo).

E explicava: uma antítese é a afirmação de duas coisas contrárias entre si. É a evidência de duas realidades que, tendo algo em comum, são diferentes e, mais do que diferentes, opostas entre si. Imaginem dois polícias que passem na rua e um é alto e o outro é baixo; um é gordo e o outro é magro; um é feio e o outro é como eu... São antíteses!

Quando quis explicar o oxímoro, tive de dizer que nesse caso, a afirmação sobre a contradição incide sobre a mesma realidade, o mesmo tempo e a mesma circunstância. Um oxímoro é algo quase inconcebível, contraditório em si mesmo e paradoxal na sua construção. A mesma essência exibe qualidades, não diferentes, mas contraditórias em si mesmo e, portanto, pela lógica, incompatíveis.

Pediram-me um exemplo.

Pensei um pouco e disse: A prof.ª Isabel Sant’Ovaia.

Eles pareceram não perceber e eu tive de explicar:

É um oxímoro que alguém de tão pequena estatura, consiga ter dentro de si um coração de tão grande dimensão.


Um beijo…

(25/11/2022)